APANHA DA AREIA
Da Ribeira da Barca têm saído, ao longo das últimas décadas, os inertes para a construção de grande parte da ilha de Santiago.
Nos últimos anos, essa actividade tornou-se mais fiscalizada e passou a circunscrever-se à praia do Charco, a sul, ou à ribeira, para nascente e interior da vila. Pela exigência do trabalho em cada um desses locais observa-se, normalmente, uma divisão por faixas etárias. Na praia do Charco, por exemplo, trabalham as mulheres mais jovens e com mais saúde ou resistência, e que se juntam em equipas. Nesse caso, o trabalho implica entrar mar adentro para encontrar areia, encher balde, e carregá-lo no topo da cabeça ao longo de um percurso sinuoso até ao ponto onde o descarregam, longe do alcance das marés.
Na ribeira, a actividade apresenta-se mais solitária e é onde encontramos as mulheres com mais idade na sua labuta individual. Aí, a terra é cavada, separadas as pedras, escorrida a areia e cirandada para a separar da brita. Apesar de apresentar condições aparentemente menos rigorosas, trabalhar na ribeira representa uma exposição constante a poeiras e lixos, sendo recorrente o aparecimento de patologias respiratórias. Em ambos os contextos, é evidente o desgaste da actividade nas mulheres que a levam a cabo.
A juntar-se ao desgaste, hoje podemos perceber uma tendência para o abandono da procura dos inertes naturais o que coloca, inevitavelmente, um sem número de famílias vulneráveis em situação de risco. Longe vão os tempos, em que ao fim de uma semana uma equipa de 4 mulheres conseguia vender um “galucho” de areia (na praia do Charco corresponde a 5 mil escudos, menos de 50 euros e, na ribeira, a 3 mil, menos de 30 euros). Hoje, podem-se passar meses até que uma família seja novamente abrangida pela receita de uma venda.